As Maritacas e o ´Coió´; enquanto as árvores caem, o concreto sobe

As árvores caem; as maritacas protestam e o cimento sobe
Maurício Maron

É comovente – e cidadã - a reação dos ilheenses na defesa das Maritacas na Soares Lopes, após a retirada de diversas amendoeiras do canteiro central da avenida. É uma luta importante pela vida e conta com nosso apoio. A insensibilidade das autoridades que nos governam não pode se sobrepor aos interesses coletivos. Mas... perguntamos: então porque o nosso silêncio sobre o "coió"?

Coió, para quem não sabe, é uma espécie de peixe encontrada na costa do atlântico. Na linguagem popular é também onde pessoas simples da sociedade denominam seus barracos de moradia para justificar o espaço inapropriado, fora da ordem. “Vou alí no meu coió”. Ouve-se muito isso, especialmente na periferia.

E é disso que nos referimos também. O coió aqui exposto é uma obra totalmente fora da ordem – antes irregular (e por isso midiaticamente embargada por algumas poucas semanas) que a Prefeitura liberou (silenciosamente nos últimos dias) para ser executada na mesma avenida Soares Lopes, a avenida das Maritacas e das amendoeiras em questão.

É um caso absurdo e inaceitável tão quanto o que estão chamando de crime ambiental.

Uma autoridade oferece um espaço público privilegiado da avenida, talvez um dos metros quadrados mais caros da cidade, para que um empresário amigo construa seu novo empreendimento e, em troca, acorda uma mera pintura (apresentada como reforma geral) de uma rampa de skate abandonada na região. Oferece o que não lhe pertence e doa o que o povo não autorizou a doar.

A obra continua lá, bem ao lado dos protestos dos ilheenses pela vida dos pássaros. O concreto sobe, enquanto as árvores caem.

As vozes ecoam - com justiça - em defesa das Maritacas. E a cidade presencia calada alguém doar o que, de fato e de direito, pertence a todos, beneficiando a uma só pessoa.

Sim, voemos com as Maritacas. Mas tenhamos também os pés no chão para outros absurdos que estão diante do mesmo cenário da insensibilidade e de desrespeito ao nosso povo, o verdadeiro e incontestável dono desta cidade.